(São Paulo, SP)
A galeria Blau Projects recebe a partir de amanhã a nova individual de Caetano Dias, “Céu de Chumbo”. Com 12 obras inéditas desenvolvidas especialmente para a mostra, o artista apresenta sua mais recente produção, com vídeo-instalações, fotografias e instalações com instrumentos de corda.
Um dos artistas mais consistentes de sua geração, já tendo exposto em diversos lugares do mundo, o baiano Caetano Dias apresenta sua produção recente inspirada no sertão e principalmente nas suas incursões em Canudos, no interior da Bahia, onde ocorreu um dos mais sangrentos episódios da história brasileira. Entre os anos de 1896 e 1897, sob a figura épica de Antonio Conselheiro, a chamada Guerra de Canudos protagonizou um massacre que deixou milhares de sertanejos mortos.
Em “Adeus terra”, Caetano apresenta um díptico feito a partir de um registro de performance. ‘Na verdade, a performance teve um público só, que foi a câmera fotográfica’, conta o artista. O momento ritualístico aconteceu no Morro da Favela, um local onde aconteceram muitas batalhas no Parque Estadual de Canudos. ‘Eu limpei o chão com uma peixeira, derramei 10 quilos de urucum na terra e fiquei ali, deitado durante 20 minutos sob o sol’, relembra Caetano. ‘Essa obra fala das guerras, das mortes, das perdas e todas essas questões políticas que permeiam nossa vida’, define.
A frase atribuída a Antonio Conselheiro, ‘o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão’, é inspiração para o trabalho “Entre terras e águas”, fotografia do artista. ‘Fui ao Porto da Barra, local onde a Bahia foi fundada, e joguei a terra colhida em Canudos. E fiz o mesmo em Canudos. Levei a água da Bahia e joguei em sua terra’, conta. ‘No fundo, Antonio Conselheiro estava falando do que estamos vivendo atualmente, sobre as questões climáticas, a escassez da água que está mais contemporânea do que nunca’, afirma Caetano.
Em “Céu de Chumbo”, obra que dá nome a exposição, o artista fotografou, em 360 graus, o ponto de vista de uma casa que foi construída para abrigar os engenheiros responsáveis pela Barragem de Cocorobó. ‘Essa barragem cobriu a antiga cidade de Canudos’, conta Caetano. Atualmente, a casa serve de hospedagem para quem visita a região, que já foi conhecida como Belomonte.
Em “Cruzeiro do sul”, o artista faz um díptico, no Vale da Morte, onde há milhares de pessoas enterradas resultantes das batalhas na região. Nessas fotografias, Caetano propõe uma nova leitura da violência, com o desenho da constelação de Cruzeiro do Sul (símbolo da bandeira do Brasil) perfuradas com chumbo na fotografia da paisagem. ‘A violência do passado constantemente se atualiza’, preconiza o artista.
O artista também construiu instrumentos musicais de cordas para montar no espaço expositivo. Trata-se de três obras: “Mulatos I”, “Mulatos II” e “Mulatos III”. ‘O suporte desses instrumentos é a parede’, conta. Numa dessas obras, o artista se apropria do mapa militar da invasão de Canudos publicada no livro Os sertões, de Euclides da Cunha, unindo uma corda do instrumento a uma bala da época da guerra, conseguida por ele. ‘Este é um instrumento de uma corda só, o que não deixa de ser uma metáfora para a guerra’, conta o artista.
Ainda constam na exposição as obras “Sob o céu de 1897”, “Retrato de família”, “Tempo de chumbo”, todas de 2015, além do filme “Rabeca”, já lançado em formato do cinema, mas atualizado com cenas novas feitas em Canudos e exibido pela primeira vez como vídeo-instalação em três telas na galeria.
“Céu de chumbo”, individual de Caetano Dias
Abertura: 17 de outubro
Em cartaz até 19 de novembro
Blau Projects
Rua Fradique Coutinho, 1464, Fundos – Vila Madalena
Funcionamento: terça a sábado, das 11h às 19h
T: +55 11 3467-8819 | +55 11 3467-8801