(Rio de Janeiro, RJ)
A artista carioca Fábia Schnoor está em cartaz coom a individual “Lugar” no Centro Cultural Cândido Mendes, com curadoria e texto de Paulo Sergio Duarte. Na exposição, Fábia apresenta duas séries de desenhos em nanquim com trabalhos inéditos.
Na série “Lugar”, que dá nome à exposição, a artista desenha o instante com o escorregar da gota de nanquim que traça seu trajeto, construindo mapas, plantas baixas e lugares de memória. Já em “Cartobiografias”, por meio de uma escrita automática, Fábia registra o fluxo do pensamento no gesto e procura reconstruir uma memória ou um tempo passado. A artista assim descreve seu processo: “meu interesse está em reconhecer a presença forte que uma ausência traz. Investigar como atua o acaso e o que se constrói a partir dele. Ver o tempo agir, como ele imprime suas marcas, como desintegra e reintegra a matéria, o que é conservado e o que é perdido.”
Fábia pesquisa a construção da memória e as possíveis formas de registro do tempo e do homem, além da relação constante entre escolha e acaso na construção do trabalho. Em uma de suas séries a artista cria desenhos geométricos construídos a partir dos pontos marcados por traças nas páginas de um antigo livro. Na residência feita em Berlim, ela fotografa vestígios que encontra, no seu percurso, deixados por outros passantes, e posteriormente desenha mapas imaginários a partir dessas fotografias.
Leia o texto curatorial, de Paulo Sergio Duarte:
Todos sabem que a força autônoma do desenho é moderna. Antes o desenho era visto como forma auxiliar e preparatória para a pintura ou para estudos, sem o mesmo estatuto da tela a óleo, de um mural ou afresco, de uma escultura ou mesmo de uma gravura. A arte moderna e o mundo contemporâneo elevaram o desenho ao mesmo patamar de qualquer outro gênero da arte e transformaram em ato sua potência, antes subestimada.
Os desenhos de Fábia Schnoor são a demonstração dessa potência que passa ao ato e, notem bem, sem o apelo fácil, tão em moda, às imagens banalizadas no cotidiano da sociedade de consumo. O uso do nanquim sobre papel é outro elemento da tradição que os desenhos de Fábia trazem para o presente numa linguagem atual. E o suporte aqui não é neutro; como em boa parte da inteligente arte contemporânea é protagonista, junto com a tinta, e participa ativamente na constituição dos trabalhos. Tanto naqueles desenhos em que o papel, cuja textura na sua massa é constituída de fios têxteis, vai absorver e trabalhar a tinta expandindo-a na superfície além do gesto da artista, como naqueles duplos, cujo suporte transparente permite que tenhamos, na sobreposição, uma obra que produz seu próprio fantasma. Sem estardalhaço, estamos diante da potência do desenho em toda sua força contemporânea.
“Lugar”, mostra individual de Fábia Schnoor
Curadoria e texto de Paulo Sergio Duarte
Em cartaz até 18 de julho
Centro Cultural Cândido Mendes | Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes Almeida
Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema
T.: +55 21 2525-1006
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