Leia entrevista do Grupo EmpreZa cedida ao Instituto Marina Abramovic

O Grupo EmpreZa foi um dos oito selecionados para apresentar performances ao vivo durante “Terra Comunal – Marina Abramovic + MAI”, em cartaz até 10 de maio no SESC Pompeia, em São Paulo. A performer Marina Abramovic e as curadoras Paula Garcia e Lynsey Peisinger selecionaram oito artistas brasileiros para integrar o MAI Presents [“MAI Apresenta”], uma das seções presentes na exposição. O escritor e curador Ulisses Carrilho preparou um texto, com base nos depoimentos do Grupo sobre seus trabalhos e experiências. Leia abaixo o texto, traduzido livremente.



Rebelião Regional
Texto por Ulisses Carrilho, publicado originalmente aqui

Tem um pouco de regionalismo e rebelião em cada dose de cachaça servidos nos Serões Performáticos do Grupo EmpreZa. Não é apenas a bebida que tem o sabor brasileiro, mas também cada ação performada pelo coletivo. Seu repertório de materiais e ações se transformam e universais por serem particulares. Tolstoi disse uma vez que “se quiser ser universal, comece pintando seu próprio vilarejo”. O ato de servir algo estabelecido como uma relação de trabalho, deu novo significado para uma ação que só pode ser entendida como hedonea. Outro termo que ganha significado especial com o Grupo EmpreZa? A escolha da palavra Grupo destaca a intençao deles de permanecer como um grupo.Ser um coletivo de arte para eles equivale a desconstruir hierarquias. A discussão a seguir sobre Vesúvio com o Grupo EmpreZa é um diálogo escrito sobre um texto feito entre cada um dos membros do coletivo. Em vez das tradicionais Pergutas e Respostas, eles escolhem responder questões com questões e incluem textos institucionais em suas respostas. Essas perguntas já foram propostas por eles e são utilizadas no catálogo da mostra.

O Grupo EmpreZa tem uma jornada de ações tanto na cena alternativa quanto em espaços institucionais. Como vocês e seus trabalhos lidam com essas duas instâncias?

O Grupo Empreza nasceu nos anos 2000, momento importante para a cena de arte brasileira. Naquele tempo, muitos outros grupos dedicados a performance surgiram no país, compartilhando uma sensação de colaboração conectada. Tais grupos se articulavam, criando seus próprios espaços e experiências, independentemente do circuito artístico oficial. Nos conhecemos e nos apresentamos nas ruas, em casas de amigos, em locais alternativos que tinham uma energia próxima e recebiam nossas propostas experimentais de forma positiva. Era uma proposta de atuar paralelamente ao sistema como uma forma de expressar nossa insatisfação com a rigidez do poder institucional. Essa era nossa principal referências. Foi durante essa recemte polarização política que o GE criou suas práticas internas horizontalmente, assim como o reconhecimento da nossa necessidade de provocar tais instituições, tirá-las de suas zonas de conforto e minar a rigidez de seus protocolos. Nós nunca fomos anti-institucionais, não é sobre isso. Nós queremos ir além das instituições de arte assim como elas vão além de nós. Mas, quando isso não é possível, nós ganhamos, acima de tudo, reconhecimento e experiências que estão presentes na vida e na arte fora das instituições.

Como o Grupo se relacionou com o Método Abramovic?
Trabalhar com Marina Abramovic tem sido uma honra e uma experiência muito enriquecedora para nós, já que sempre a consideramos uma importante referência para nosso trabalho. Nossa mera coexistência com Marina já nos faz sentir a responsabilidade do que fazemos hoje. É interessante notar para nossa produção que, como temos pensamentos diferentes, cultivamos termos chave. Por exemplo, não acreditamos em corpos limpos. Nesse sentido, estamos mais conectados com Artaud e Bataille. Apreciamos os excessos, alguma disordem, indisciplina e vício (mas não irresponsabilidade). Nos incomoda pensar arte como um território que busca a disciplina do corpo (usando uma imagem de Foucault). Nossos corpos são comuns, ordinários, apesar de diversos. Vemos a performance como corpos desregrados e sedentários, e os levamos a seus limites. Nesse sentido, quando participamos do workshop “Cleaning The House”, aceitando todas as restrições. como não comer, não falar, vimos menos como um tipo de limpeza e mais como um desafio. Nosso maior interesse estava em experienciar limitações propostas aos nossos próprios corpos, sem pensar na ideia de purificação.

“Terra Comunal” segue em cartaz até 10 de maio no SESC Pompéia, em São Paulo. Saiba mais sobre a mostra e seus outros participantes clicando aqui.



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