(Rio de Janeiro, RJ)
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro recebe a partir da próxima quarta, 15 de abril, a mostra “Ver e Ser Visto”, com curadoria de Guilherme Gutman. A exposição propõe um novo tipo de olhar a partir das coleções do MAM-Rio.
Adaptado do texto de Guilherme Gutman:
Pode parecer muito simples olhar para algo ou para alguém: abrem-se os olhos e lá estará aquilo que, uma vez captado por nosso aparelho sensório, numa sequência natural, seráentão decodificado por nosso cérebro. Provocará desconcerto a afirmação de que, ao contrário do que aposta o senso comum, olhar – e ver – não dizem respeito ànossa captação de objetos no mundo, mas, inversamente, ao fato de sermos cooptados por certos objetos mundanos.
Um de nossos sentidos, a visão parece corresponder a uma modalidade especialmente potente de “experiências de cooptação”. Mas outros canais sensoriais ou as experiências “internas”, tais como a rememoração, o devaneio ou a criação fantasmática, são plenamente capazes de nos tracionarem[2]de modo irrecusável; não apenas por estarem àdisposição no mundo, mas porque, de algum modo, fazem parte do “nosso mundo”.
Dar vazão a tal desconcerto significa não apenas compreendê-lo pelos caminhos racionais do pensamento, mas, sobretudo, mergulhar na experiência de tração pelo objeto. Uma vez nessa situação, toma-se qualquer coisa que esteja colocada no mundo não em sua visualidade corriqueira, mas numa estranha veracidade que permitirá que se compreenda o dito que desliza dos Evangelhos, passa por Diderot e chega àpsicanálise de Lacan: “é preciso fechar os olhos para ver”.
Bastará um ligeiro exercício imaginativo para que, com Merleau-Ponty, se passe a entender o que estáem jogo nas diferenças entre “olhar”e “ver”.
Imaginem-se em um museu. Abram os olhos e fechem os olhos. Há muito a ser experimentado; muito a ser visto, ouvido, sentido sobre a superfície do corpo, que num balanço próprio também fornece, ele mesmo, a experiência de um volume que se posiciona e se desloca no espaço. Nessa posição de receptividade ao mundo – a atual – somos visitados por um sem-número de experiências sensoriais: as obras de arte– próximas ou a distância; as diferenças de luminosidade e de temperatura no espaço expositivo, a curiosidade, excitação ou incômodo pela proximidade das pessoas, o som das vozes e dos passos.
Mas nem tudo aquilo que experimentamos seráequivalente em força ou importância: algumas coisas virão mais próximas, “quentes” e íntimas do que outras. Em “O olho e o espírito”, Merleau-Ponty escreve: “Não basta pensar para ver: a visão éum pensamento condicionado, nasce por ocasião do que acontece no corpo, é excitada a pensar por ele”. Essa afirmação, difícil, abrupta, exigente quanto ànossa capacidade de situar-nos do outro lado dessa dinâmica do olhar, também encontra força nas elaborações teóricas de Didi-Huberman, quando ele escreve algo como: “O que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha”.
Buscando traduzir essa ideia, sempre correndo o risco de vê-la diluir-se na simplicidade, podemos rememorar um desses momentos em que cada um de nós tenha parado – se detido por um tempo mais ou menos longo – diante de uma obra de arte; um quadro, digamos. Mas para tornar a coisa toda mais clara, digamos que todos nós játenhamos fixado o olhar em alguém que, por alguma razão, nos interessou particularmente. Essa experiência, tão universal quanto vibrante, grávida de consequências em seus possíveis efeitos, faz pensar no que teráfeito com que, diante de tanta gente nas cidades, o olhar tenha pousado – e permanecido – por tempo que terásido suficiente para que “um qualquer”se torne um.
Algo, em alguém, cintilou como um olho que brilhou no escuro; como um diafragma que nos olhava de lá.
“Ver e ser visto” éuma exposição que olha as coleções do MAM tendo como princípio norteador a ideia de que todo trabalho de arte é construído em torno do vazio: é nessa espécie de contorno de um espaço aberto que “a coisa” deve advir. Dito de outro modo, toda experiência estética éa de remissão ao objeto perdido e, por isso mesmo, incessantemente buscado por cada um de nós.
“Ver e ser visto”
Curadoria de Guilherme Gutman
Abertura: 15 de abril
Em cartaz até 19 de julho
Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
Av Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo 20021-140 Rio de Janeiro RJ Brasil.
T +55 (21) 3883 5600
www.mamrio.org.br facebook/museudeartemodernarj
twitter/mam_rio
Horários
ter – sex 12h – 18h | sáb, dom e feriados 12h – 19h
A bilheteria fecha 30 min antes do término do horário de visitação.
Ingressos
Exposições R$12,00 (inclui uma sessão gratuita na cinemateca válida no dia da emissão do ingresso).
Maiores de 60 anos e estudantes maiores de 12 anos R$6,00. Domingos ingresso família até 5 pessoas R$12,00.
Cinemateca R$6,00
Maiores de 60 anos e estudantes maiores de 12 anos R$3,00. GRATUIDADES Amigos do l, crianças até 12 anos e funcionários das empresas mantenedoras e parceiras (mediante apresentação de crachá, com direito a um acompanhante) e quartas após às 15h.
Como chegar Referência: O Museu de Arte Moderna está localizado entre o Monumento aos Pracinhas e o Aeroporto Santos Dumont
Ônibus (linhas e pontos)
Da Zona Sul >> Via Parque do Flamengo: 472 (Leme), 438(Leblon),154 (Ipanema), 401 (Flamengo), 422 (Cosme Velho). Ponto na Avenida Beira Mar em frente à passarela.
Via Aterro: 121, 125 e 127 (Copacabana). Ponto na Avenida Presidente Antônio Carlos em frente ao Consulado da França.
Da Zona Norte >> 422 (Tijuca), 472 (São Cristóvão), 438 (Vila Isabel),401 (Rio Comprido). Ponto na Avenida Presidente Wilson, em frente à Academia Brasileira de Letras.
Da Zona Oeste >> Frescão Taquara-Castelo (via Zona Sul). Ponto mais próximo localiza-se na Avenida Presidente Wilson, em frente à Academia Brasileira de Letras.
Metrô: Estação Cinelândia
Acesso a deficientes Cadeiras de rodas, rampas de acesso até os salões de exposição, elevadores e sanitários especiais.
Estacionamento Pago no local 7h – 22h
Para mais informações acesse http://mamrio.org.br.