“To see what is coming”, mostra coletiva com performances, exibições e publicações

(Rio de Janeiro, RJ)

A exposição “To see what is coming” foi concebida como resultado do workshop “Práticas Curatoriais Contemporâneas: pensamentos, processos e materializações”, ministrado pelos curadores Bernardo José de Souza e Michelle Sommer, entre abril e julho deste ano no Largo das Artes.
A mostra também inclui performances, exibições e publicações, que ocorrerão paralelamente à exposição durante os meses de julho, agosto e setembro de 2014.

A partir da próxima quinta-feira, 17 de julho, o público poderá conferir os trabalhos dos artistas Audrey Cottin, Daniel Steegmann Mangrané, David Cronenberg, Eadweard Muybridge, Fancy Violence, Gisela Motta & Leandro Lima, Gustavo Ferro, Harun Farocki, Laura Lima, Le Corbusier, Matheus Rocha Pitta, Neil Beloufa, Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia / Cinthia Mendonça e Bruno Vianna, Pablo Ferretti, Rodolpho Parigi e Luiz Roque.

Texto da curadora Michelle Sommer:
Explorar a divergência entre as temporalidades globais e subjetivas no tempo futuro é, necessariamente, pensar sobre a ideia de fim ou seu oposto binário, uma construção idílica entre natureza/cultura ideal para a perpetuação da vida na Terra?

Entre a catástrofe e a esperança, especula-se sobre o “estado das coisas” no transbordamento do conceito filosófico de segunda natureza para o campo estético, nas temporalidades passado-presente-futuro (sim, o futuro também tem uma história). Toda a descrição de um “estado das coisas” confere um papel importante ao tempo. A rigor, o “estado das coisas” é uma ficção. Aqui, constrói-se uma ficção expositiva: um conjunto de relações entre uma percepção e outra percepção, entre coisas que se consideram perceptíveis e o sentido que pode ser dado a elas.

“to see (what is) coming” apresenta uma duplicidade dos sentidos na tentativa de antecipar o futuro e simultaneamente deixar-se ser surpreendido por ele. O exame do “estado das coisas” dá-se através do devir-outro, onde uma seleção de trabalhos assumem significados que determinam um conjunto de possibilidades (e impossibilidades) que derivam do que é dado e de sua interpretação curatorial. Na interação das temporalidades, não há uma identidade imediata entre o tempo global e o tempo subjetivo: nosso mundo não funciona de acordo com um processo homogêneo de presentificação e aceleração. Há uma relação de divergência e convergência dos tempos. Aposta-se na saída do reinado do presente absoluto, da trama da homogeneidade, considerando que há vários tempos em um só tempo que partilha diversos mundos de experiência, adensados e em contaminação visual.

Pausa. Intervalo. Interrupção. Para renegociar as formas de aceleração ou desaceleração ditadas pelo sistema: eis a configuração de um evento expositivo estruturado em atos. Uma redistribuição dos tempos através da prática do dissenso: um tempo de igualdade dentro do tempo da desigualdade. Pensa-se sobre o ponto cego que escapa, sobre o porvir da volta da esquina, um questionamento sobre o espírito íntimo, indestrutível em nós, de instinto de sobrevivência.

Retoma-se a questão da forma – não apenas a diferença da forma, mas a forma da diferença. A plasticidade decorre das ações de dar forma, receber forma e explodir a forma. Um deslocamento imanente da forma enquanto capacidade de transformação que não opõe dentro (repetição, familiar) e fora (alteridade, estrangeiro), mas desde dentro, é estranho a si mesmo. A plasticidade é a aventura da forma (Catherine Malabou). O próprio conceito é plástico: a plasticidade está nos dois extremos da criação e da destruição da forma. Na ideia de metarmorfose plástica – que mantém em aberto toda forma – dimensões fantásticas interagem com personagens irreconhecíveis em improvisação existencial absoluta, em formas nascidas do acidente que extendem os limites de transformação do corpo humano. O ciborgue problematiza o pensamento contemporâneo sobre subjetividade, tecnologia, ciência, gênero e sexualidade em suas dicotomias mente/corpo, organismo/máquina, natureza/cultura, humano/animal.

Nos novos (ou outros) fenômenos traumáticos contemporâneos, em um estado exausto de “traumas sócio-políticos” frágil e vulnerável, estamos em um ponto sem retorno, uma contração civilizatória. Borramos fronteiras entre a ficção científica e a realidade social para construção de uma ilusão ótica ficcional. Com o tempo, nos tornamos finalmente aquilo somos, só nos tornamos aquilos que somos. E todos somos híbridos (em proliferação).

Programação:
17 de julho, às 19 horas
Coquetel de abertura
Largo das Artes

19 de agosto, às 19 horas
Escultura Sopa de Pedra, de Matheus Rocha Pitta
Largo São Francisco, atrás do IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, em frente ao Real Gabinete Português de Leitura.

28 de agosto, às 19 horas
Exibição de O.T. – Operating Theatre (registro da série de performances em 3 episódios), de Audrey Cottin + debate com Rodrigo Nunes (Prof. Dr. em filosofia da PUCRJ)
Largo das Artes

6 de setembro, entre 15 e 21 horas
Laboratório da Destruição, Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia
Largo das Artes + Largo São Francisco

13 de setembro, às 19 horas
Ópera_Ato 2, Fancy Violence
Largo das Artes

“To see that is coming”, mostra coletiva com Daniel Steegmann Mangrané, Gisela Motta & Leandro Lima, Laura Lima, Matheus Rocha Pitta, Pablo Ferretti e Rodolpho Parigi
Abertura: 17 de julho, a partir das 19h
Em cartaz até 18 de setembro

Largo das Artes
Rua Luis de Camões 2, Centro
+ 55 21 2224 2985
largodasartes.res@gmail.com
Horário de funcionamento das exposições: de terça a sexta-feira, das 10 às 18 horas; sábados, das 10 às 17 horas



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