(Porto Alegre, RS)
A Fundação Iberê Camargo apresenta, desde o dia 29 de maio, a exposição “Liberdade em movimento”, curada pelo crítico de arte Jacopo Crivelli Visconti e com participações de Runo Lagomarsino e André Severo. A mostra aborda o papel da caminhada na prática artística contemporânea com seus múltiplos desdobramentos e possibilidades e ainda traz à tona importantes questionamentos sociais, políticos e poéticos que permeiam a arte contemporânea.
Utilizado desde o dadaísmo, o ato de andar ganha maior projeção a partir dos anos 60, quando passa a representar uma possibilidade de fazer artístico que busca distanciar-se do apelo comercial e focar-se na ação em si. A line made by walking (1967), trabalho de Richard Long, exemplifica bem essa nova atitude artística. Ele consiste exatamente no que seu nome indica: uma linha desenhada pelo artista em um campo apenas com a repetição da caminhada pelo mesmo trajeto.
Levando além a tensão entre ação e registro, aparece Artur Barrio com a experiência extrema de 4 dias 4 noites. Em 1970, a fim de romper com a dependência do suporte, o artista deambula pelas ruas do Rio de Janeiro durante o período de tempo que dá nome ao trabalho, buscando uma imersão no real, apenas inscrevendo seu corpo no trajeto e seguindo seus impulsos imediatos. É apenas 8 anos depois que esse trabalho ganha uma forma de registro, dois caderno-livros (forma recorrente na obra de Barrio) com as páginas em branco, intitulados 4 dias 4 noites. Segundo Visconti, os cadernos representam “quase um ato de rendição ao silêncio, uma admissão da impossibilidade de se criar um registro que desse, minimamente, conta da carga dionisíaca e explosiva da ação”.
Um tensionamento que perpassa a mostra é o conflito entre ação e registro. O que o público vê não é o trabalho em si, mas apenas parte dele, sua porção de registro – por natureza, parcial e limitada em relação à ação que lhe deu origem. Nas palavras do curador, “a disposição para entregar o aspecto final da obra ao acaso, pelo viés da intervenção mais ou menos direta dos outros, confirma o desinteresse dos artistas aqui reunidos para um objeto artístico convencional, perfeitamente acabado. Mesmo quando acontece em completa solidão, mais do que produzir algo novo, essas ações visam a fusão do artista com o espaço, a simbiose com a sociedade”.
Artistas participantes: Joseph Beuys, Francis Alÿs, Richard Long, Dennis Oppenheim, Lygia Clark, Artur Barrio, Cildo Meireles, Allora & Calzadilla, Emily Jacir, Christian Marclay, Meriç Algün Ringborg, Clarissa Tossin, Runo Lagomarsino, André Severo, Mario Garcia Torres, Andrey Monastyrsky e do coletivo Multiplicity.
“Liberdade em movimento”, coletiva com Runo Lagomarsino e André Severo
Curadoria de Jacopo Crivelli Visconti
Em cartaz até 10 de agosto
3º andar da Fundação Iberê Camargo
Av. Padre Cacique, 2000
Porto Alegre – RS
+55 51 32478000
Terça – domingo, das 12h às 19h
Quinta, das 12h às 21h
Feriados, das 12h às 19h (exceto segundas-feiras)
Entrada gratuita