(Rio de Janeiro, RJ)
O Museu de Arte do Rio (MAR) propõe politizar a figura da mascote da Copa do Mundo, o tatu-bola ou Fuleco. A exposição “Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga” combina surpresas, diversão e questionamento crítico ao abordar o universo simbólico do futebol e da caatinga, o habitat natural e exclusivo desse tatu, espécie ameaçada de extinção, que ao virar bola para se defender de seu predador torna-se presa fácil do homem.
A caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, ambiente de resistência e adversidade, é fonte rica de convivência entre culturas indígenas e vestígios coloniais, nesta exposição representada por Antonio Conselheiro, Lampião, retirantes, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, o Cinema Novo e outros.
Refletindo uma diversidade cultural, a face anti-heroica do futebol brasileiro, ainda que pentacampeão, surge em peladas ladeira abaixo ou na lama e num time que nunca marcou um gol. Assim, com bolas quadradas, campos com três traves e teses marxistas, a arte exposta vai do drama social às alegrias das partidas de várzea por meio de imagens históricas e trabalhos contemporâneos como os dos artistas Julio Leite, Lenora de Barros, Pablo Lobato, Rodrigo Braga, Tony Camargo, Celso Brandão, Miguel Rio Branco, Lula Wanderley, Igor Vidor, Rubens Gerchman, Antônio Bandeira, Ana Vitória Mussi, Nelson Leirner, Delson Uchoa, Heloísa Juaçaba e Letícia Parente.
“A exposição não vai mostrar grandes jogadas, mas cativar o público com a maneira pela qual o futebol é capaz de gerar ideias, poética, imagens críticas, situações comoventes e estabelecer relações territoriais”, explica o curador Paulo Herkenhoff. “É como um microcosmo, uma microfísica da sociedade. Por isso o jogo não é tão importante quanto tudo aquilo que o futebol representa em termos de política.”
Além do espaço expositivo, “Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga” se espraia pelo museu ocupando o pilotis e a passarela que une a Escola do Olhar ao Pavilhão de Exposições. Nos pilotis, grama sintética em todo piso, mesas de futebol totó, e futebol de botão proporcionam atividades inusitadas aos visitantes. Professores e alunos do Instituto Benjamin Constant se juntam à equipe do Educativo do MAR para realizar atividades, como oficinas com cerâmica.
Educação
A escolha do tatu-bola e da caatinga foi motivada por uma pesquisa no Ceará que concluiu que uma criança pobre conhece apenas metade do vocabulário de uma criança de classe média. Uma experiência de aceleração de aquisição de vocabulário nas escolas do interior daquela região, no entanto, resultou em avanços em todas as disciplinas. “Com isso em mente, queremos que o legado da Copa no MAR seja na área da educação”, afirma Herkenhoff, também diretor cultural do Museu. “Ao expandir o vocabulário de uma criança, a arte pode aprimorar imensamente o seu contato com o mundo”, conclui.
(O conteúdo reproduzido acima foi retirado do site: http://www.sopacultural.com/)
O tatu não é azul. A carapaça amarronzada adverte que o tatu-bola não se vincula aos céus, mas ao chão. A bola-tatu não voa, mas contém sua defesa: torna-se bola como forma de proteção por não saber cavar a terra para se esconder. Protegido contra predadores naturais, é presa fácil do homem e, logo, é vítima no desequilíbrio ambiental. Tudo no tatu-bola leva à terra quente e avermelhada de seu habitat – a caatinga –, o sertão que abrange parte do Norte e do Centro-Oeste do Brasil, além de praticamente todo o Nordeste. Alguns reduziram o tatu-bola de mascote da Copa do Mundo – oportunidade de se tornar uma reflexão lançada em escala mundial – ao símbolo do futebol global. Triste sina. As expectativas de entidades de defesa da natureza eram de que a Copa contribuísse para a salvação do tatu-bola da extinção. Daí o nome Fuleco = FUteboL+ECOlogia. A caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, é abundante e árida em simultâneo. Habitat retorcido de miséria e esgalhado em vasta riqueza sociocultural, a adversidade marca sua história e sua cultura de resistência.
A escolha do tatu-bola como mascote da Copa lança, aqui, o desafio político, neste momento intenso da vida pública do país: como pensar a bola – o jogo em sua versão mais comum, como também o esporte, em sua versão profissionalizada – a partir da perspectiva do tatu? Decerto, um pensar-tatu pode fazer perguntas produtivas para reflexões sobre o presente e o futuro do Brasil. Questionando os estereótipos da bola e, pois, do futebol, o tatu-bola questiona territorialidades que junto a ele se anunciam: que tipo de Brasil se mostra nesse bicho e que brasis, porventura, se abafam na carapaça azul de sua versão mascote?
Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga faz-se sob o ponto de vista do bicho vivo. O imaginário da caatinga, do tatu e da bola conduz-se aqui pela óptica da adversidade que pauta a história do Brasil. Arte e artefatos culturais percorrem o ecossistema luminoso e quente da caatinga, o tatu na mitologia de sociedades indígenas, a invenção simbólica e política do sertão – a seca, o cangaço, a literatura social, o cinema novo, a arte contemporânea –, até o futebol da bola adversa (não a bola padrão Fifa, mas a irregular bola-tatu), o jogo entendido como uma importante forma de sociabilidade e de resistência. A partir do tatu, cabe experimentar a bola em sua reinvenção da perfeição esférica, aproximando-se da força política e da potência estética das formas cuja adversidade acumula uma energia pronta a explodir. Por fim, a escolha do tatu-bola e de sua caatinga se deve, primordialmente, à pesquisa no Ceará que concluiu que uma criança pobre conhece apenas metade do vocabulário de uma de classe média. Uma experiência na caatinga de aceleração de aquisição de vocabulário nas escolas resultou em avanços em todas as disciplinas. O que pode a arte para ampliar o vocabulário de uma criança? A partir dessa indagação crucial para o MAR começa o jogo da Copa, pois o legado do museu para as escolas serão projetos educativos.
– Por Eduardo Frota e Paulo Herkenhoff, curadores.“Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga”, com participações de Julio Leite, Lenora de Barros, Pablo Lobato, Rodrigo Braga e Tony Camargo, entre outros.
De 15 de maio até 21 de setembro
Museu de Arte do Rio
Praça Mauá, 5 – Centro
Telefone: 21 3031-2741
Mais informações: www.museudeartedorio.org.br
Horário de visitação
Terça-feira a domingo, das 10h às 17h.
Aberto aos sábados, domingos e feriados.
Fechado às segundas-feiras.
Ingressos
R$ 8 | R$ 4 (meia-entrada).
Aceita pagamento em dinheiro ou cartão (Visa ou Mastercard).
Meia entrada:
Pessoas com até 21 anos;
Estudantes de escolas particulares (Ensino Fundamental e Médio);
Estudantes universitários;
Pessoas com deficiência;
Servidores públicos da cidade do Rio de Janeiro.
Gratuidade:
Às terças-feiras, o MAR é gratuito para todos.
Nos demais dias, gratuidade para:
Alunos da rede pública de Ensino Fundamental e Médio;
Crianças com até 5 anos de idade;
Pessoas com idade a partir de 60 anos;
Professores da rede pública de ensino;
Funcionários de museus;
Grupos em situação de vulnerabilidade social em visita educativa;
Vizinhos do MAR;
Guias de turismo.
* Em todos os casos, é necessário apresentar documentação comprovativa.