Lançamos agora mais uma entrevista com artistas indicados ao PIPA 2014. Desta vez conversamos com André Santangelo.
Em resposta à pergunta da artista Beatriz Milhazes: “Como você desenvolve o seu processo de trabalho? Você tenta um diálogo ou é uma discussão?” Santangelo explica que tem um diálogo com a linguagem – tanto com a pintura quanto com a fotografia – mas também tem uma discussão, porque “é sempre desafio e sempre nervo exposto”.
O artista fala que do acúmulo de materiais de instalações que guarda no seu ateliê, surgiu uma série fotográfica, com objetos como um colchão pintado com nanquim e 5km de fio de náilon. Santangelo relata ainda que gosta de fotografar o mar quando visita sua família no Rio ou amigos que estão na Bahia. E que em Brasilia mora perto de um grande lago, que “dá pra afazer umas perspectivas bem legais. As vezes até poça d’água dá pra fazer um marzinho legal.”
Assista à entrevista com André Santangelo:
Vídeos PIPA
Desde a primeira edição do PIPA, em 2010, contratamos a Matrioska Filmes para produzir vídeo-entrevistas com os artistas indicados ao Prêmio. Chegando a sua 5ª edição em 2014, o Prêmio segue acreditando na importância dos vídeos que anualmente são produzidos pela produtora, com exclusividade para o PIPA.
Como aponta Luiz Camillo Osorio, curador do MAM-Rio e conselheiro do Prêmio, no texto Desejo de arquivos: “Se a premiação visa o reconhecimento e a distinção, a construção de uma memória contemporânea visava a análise ampliada do circuito.”
Leia o texto de Luiz Camillo Osorio, onde ele destaca a importância dos vídeos do PIPA:
(Originalmente publicado em 7 de junho de 2013.)
Desejo de arquivos
Você vê o documentário que Scorsese fez sobre Dylan e fica pasmo ao ver como os americanos documentaram cada entrevista dada pelo então promissor cantor folk. Podemos parar aqui e dizer que Dylan e os Estados Unidos se merecem mutuamente. Nada na História do Brasil fez com que pudéssemos ter uma atitude de altas expectativas a nosso próprio respeito que nos levasse a registrar o que surge. – Caetano Veloso
Lendo esta passagem escrita em sua coluna do Jornal O Globo em 7 de Outubro passado não tive como não concordar integralmente com o Caetano. De fato, há por aqui uma negligência superlativa em relação à memória, ao arquivo, ao registro dos acontecimentos. Nossa paixão pelo efêmero, nossa contínua promessa de futuro, acaba por desconsiderar o registro dos fatos e a necessidade de dar-lhes alguma posteridade.
Um exemplo recente abrindo o caminho da discussão. A curadora portuguesa Marta Mestre, curadora assistente do MAM-Rio, quis fazer uma exposição com a história do Espaço Sergio Porto no Rio. Entre o final dos anos 1980 e meados da década seguinte, aquela pequena galeria no Humaitá lançou toda uma geração de artistas que hoje está já legitimada internacionalmente. Não obstante a relevância daquele espaço da Prefeitura, não havia qualquer arquivo ou registro dos fatos disponível. A solução foi recorrer ao que restava nas mãos dos artistas para levar à frente o projeto. O descaso pelo acesso público à memória é uma patologia perigosa que fortalece privilégios e reforça assimetrias.
Por outro lado, com o desenvolvimento recente de novas tecnologias e a facilidade de se fotografar ou filmar tudo e qualquer acontecimento com um pequeno celular, há uma verdadeira fome de reprodução. Antes da experiência, do vínculo existencial, do afeto, já vem o registro. Inverteu-se a equação, mas se não houver como selecionar e guardar o registro, o problema segue o mesmo.
Há que se combinar matéria e memória e construir arquivos que tragam uma aposta no registro diferenciado do presente. Felizmente, algumas iniciativas começam a aparecer no Brasil – antes tarde do que nunca – no sentido de criar, resgatar e trabalhar com arquivos. Vai nesta direção a aposta do Prêmio Investidor Profissional de Arte – PIPA – ao realizar pequenas entrevistas via Skype com todos os artistas indicados ao prêmio. Estas entrevistas procuram ouvi-los brevemente sobre sua obra, seu processo criativo, seu ambiente de trabalho, suas inquietações e demandas. Estes vídeos estão disponíveis no site do PIPA e junto à página de cada artista indicado. A idéia é que possam ser atualizados a partir de novas indicações dos artistas ao prêmio, mas sempre tendo como prioridade os indicados pela primeira vez.
Olhando com a vista fixada no presente, podem parecer mero registro ocasional e superficial. Todavia, nosso esforço é o de ir além do olhar mais concentrado e focado do mercado de arte que repete nomes para inflacionar valores. O registro aberto e descentralizado amplia o ângulo de atenção registrando a diversidade da cena local. Entre o crivo fechado do mercado e a indiferença do não-critério, as entrevistas e as páginas dos artistas indicados ao PIPA são um retrato panorâmico da arte contemporânea brasileira.
Nestes três anos já foram feitas 195 entrevistas com 159 artistas diferentes, morando em cidades tão distintas como Riachão do Jacuípe na Bahia, em Belém, em Piraquara no Paraná, em Berlim, em Estocolmo, e claro, no Rio, em São Paulo e nas principais capitais. As várias micro-cenas que compõem a cena contemporânea brasileira podem ser vistas e avaliadas, revelando diferenças e convergências. Em que medida todos estes artistas são contemporâneos? Que Brasil – no plural – fala através de suas inquietações criativas? Como eles dividem horizontes poéticos comuns?
Quando o PIPA procurou a produtora Matrioska para realizar estes vídeos, tinha como meta montar um pequeno banco de dados sobre a arte brasileira contemporânea. Se a premiação visa o reconhecimento e a distinção, a construção de uma memória contemporânea visava a análise ampliada do circuito. Naturalmente, são os artistas que moram na “periferia” os mais interessados na realização dos vídeos. Se não têm computador com câmera dão seu jeito para terem a possibilidade de se apresentar para o circuito maior.
Temos certeza que a continuidade destes registros e a combinação deles com a renovação das páginas dos artistas – que tem que ser feita em parceria com os artistas e suas respectivas galerias – potencializarão a relevância deste banco de dados. Um número crescente de interessados, de pesquisadores a colecionadores, já começam a usar o site do PIPA para o benefício de todos. Já é comum recebermos e-mails de pesquisadores, nacionais e internacionais (ele é bilíngüe, português/inglês), que usaram o site e que nos agradecem por termos disponibilizado tudo na rede.
Vai ser com a construção de arquivos e de uma memória crítica da arte brasileira que o nosso circuito irá conseguir responder, sem deixar-se atropelar, pela euforia crescente do mercado internacional, cujos interesses, seus mais legítimos interesses, são míopes e não prezam o tempo intensivo necessário para a construção de poéticas com a densidade que lhes é própria. Arquivos, todos eles, reclamam filtros, critérios, conflitos e, acima de tudo, temporalidades heterogêneas, não sincrônicas e não imediatistas. O PIPA tenta fazer a sua parte. / Luiz Camillo Osorio – Curador do MAM-Rio e Conselheiro do PIPA
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