Abertura no MAM-Rio

(Rio de Janeiro, RJ)
“Acaso Controlado”, de Daniel Feingold
Curadoria Vanda Klabin

A pintura de Daniel Feingold não se entrega facilmente. O olhar acostumado a identificar coisas tem que se deixar esvaziar. As tramas precisas são construídas por um gesto de total disponibilidade para o acaso, para o movimento da tinta derramada sobre a tela. A articulação da grade geométrica é atingida pela fluência do esmalte sintético escorrendo na tela sem que o artista interfira no seu movimento. O controle surge pela combinação da espessura da tinta com a precisão obtida pelo ritmo e quantidade despejada. Não há fitas separando os campos de cor, não há pincel, rolo ou espátula. Um recipiente adaptado para derramar a tinta e a mão do artista que tem o domínio inscrito no gesto que controla o acaso sabendo quanto e como despejá-la sobre a tela.

A pintura acontece neste processo e a geometria organiza o olhar na apreensão do movimento dos planos. O desenho na tela determinando por onde a tinta escorre e a gravidade atua, definindo a estrutura e a velocidade da trama. De certa maneira, é um gesto similar ao que recorta a sequência de árvores e seu lugar no espaço aberto da fotografia. O olho do artista circula com a câmera e faz do acaso de uma paisagem um ritmo de planos geométricos. O preto e branco, ou melhor, a variação de cinzas, garante a mesma sobriedade das telas. Tudo é controle e tudo é acaso. Sobra ao espectador passear por entre estes planos e sua reverberação no espaço austero e monumental da arquitetura do MAM.
Por Luiz Camillo Osorio, curador do MAM-Rio.

Esta exposição de Daniel Feingold consolida as suas afinidades com o território da pintura, ao enfatizar a qualidade da matéria e o embate com a tensão da tela, que é o núcleo plástico de seu trabalho. O ideário construtivista encontra ressonâncias por meio de uma intensa articulação de diferentes linhas e cores que se traduzem por um fraseado sincopado e rítmico, pela emergência de uma estrutura de tramas, faturas em camadas e superposições de planos que trazem em si uma perturbadora espacialidade cromática.

O artista tem um firme senso de direção, apesar de lidar com o fluxo do imprevisível até conseguir uma unidade pictórica. Ele explora as interrupções, as instabilidades e cria um espaço complexo pelo enervamento intenso da superfície da tela, uma verdadeira malha flutuante de cores e geometria. Feingold aqui revela o seu enfrentamento direto com a pintura através da execução de unidades de grande escala. A exuberância da matéria nos pega desprevenidos, ao combinar um sistema pictórico com conceitos críticos, com o repensar a arte, seus limites, suas inquietações. O seu trabalho pulsa, irradia-se para as bordas e margens em formas ondulantes, fluidas, sempre materializando um novo gesto.

A trama interna das suas grandes superfícies pictóricas traz uma espécie de desordem de possibilidades e se apresenta, por vezes, como empenas. Ora parecem se arquear para fora da tela, ora ocupa lugares tremulantes nos planos frontais, mas sempre parecem querer se expandir no espaço ao redor. O gesto original se dissolve nas linhas oscilantes que se dilatam ao serem vertidas nesse universo descentrado pelo próprio deslizamento e pelo peso gravitacional da matéria viscosa da tinta, sempre à deriva, com múltiplas direções, obstruções, áreas de suspensão e intervalos luminosos, quase como uma fenda na interpretação do mundo.

A sequência fotográfica de Feingold tem maior imediaticidade, reivindica um exercício de metalinguagem e cria um novo espaço para a sua arte transitar. Revela um constante desdobrar do seu trabalho, em que a trama geométrica atua como um vetor de força no seu jogo de luz e sombra e cria novos acontecimentos plásticos que se agregam ao fluxo poético das suas pinturas. As obras aqui presentes revelam a sua potência pictórica, a sua presença estética e reafirmam um frescor e uma atualidade ímpares.
Por Vanda Klabin, curadora da mostra.

No final de semana passado aconteceu a abertura da mostra “Pulsar”, de Marcos Bonisson; a exposição PIPA 2013 também está em cartaz com os trabalhos dos finalistas desta edição: Berna Reale, Cadu, Camilla Soato e Laercio Redondo.
Veja a programação do MAM-Rio para o mês de setembro.

“Acaso Controlado”, de Daniel Feingold
Curadoria Vanda Klabin
Abertura 28 de setembro de 2013, de 15h às 18h
Exposição 28 set – 17 nov 2013

Horários de funcionamento:

De terça à sexta: das 12h, às 18hs
Sábados, domingos e feriados: das 12h às 19h.

Ingressos:
Inteira – R$8,00

Estudantes maiores de 12 anos – R$4,00

Maiores de 60 anos – R$4,00

Amigos do MAM – grátis

Crianças até 12 anos – grátis

Ingresso família (somente aos domingos) para até 5 pessoas – R$8,00

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Av. Infante Don Henrique, 85
Parque do Flamengo
Rio de Janeiro – RJ

Tel: (+5521) 2240-4944



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