Da 30ª Bienal de São Paulo para a Sala Gratuliano Bibas, Alberto Bitar expõe pela primeira vez em Belém “Corte Seco”, série fotográfica que aborda a impermanência a partir de cenas de crimes capturadas durante rondas policiais.
“Uma mudança brusca no fluxo da imagem.” Essa é a definição de corte seco, termo da linguagem audiovisual usado para definir um tipo de passagem na montagem de cinema e vídeo e que dá nome à mais recente série do fotógrafo paraense, Alberto Bitar, numa analogia ao fluxo da vida interrompido abruptamente pela violência diária que acomete vidas na grande Belém. Foi nesse cenário que Alberto instalou seu tripé e levou a câmera para testemunhar as cenas de crimes que formam a exposição “Corte Seco”.
A série nasceu depois de Alberto Bitar acompanhar por mais de um ano as ronda de reportagem policial atrás de cenas de homicídio. E não foram poucas. A série vencedora do prêmio Marc Ferrez 2012 é formada por imagens de crimes ocorridos nas noites da cidade e capturam a atmosfera deixada instantes após o tiro ou outra arma abandonar mais um corpo inerte no chão de terra batida ou do asfalto cor de chumbo.
“Desde 2009 que eu trabalho na edição de fotografia de um jornal de grande circulação em Belém e no início de 2010 eu comecei a perceber algumas conexões entre trabalhos que eu havia produzido anteriormente, que tratam de questões como a memória a transitoriedade e outras existenciais, com alguns aspectos das imagens produzidas para o caderno policial do periódico. Quase instantaneamente lembrei de um procedimento que havia pensado para um outro trabalho onde as longas exposições seriam utilizadas e imaginei que o resultado disso me daria as imagens que buscava”, explica o fotógrafo.
As luzes multicoloridas apreendidas pelas longas exposições da câmera diante do corpo abandonado próximos a soleiras de casas instaladas na periferia emprestaram para o cenário caótico uma energia transcendental. A baixa velocidade do obturador torna borradas as faces dos curiosos que rodeiam o corpo formando uma imagem fantasmagórica, quase irreal, afastando as imagens de uma relação direta com o fotojornalismo praticado nos jornais diários.
“Apesar da série trazer fatos de interesse jornalistico que estão no cotidiano das nossas grandes cidades, esse não é o objeto principal de Corte Seco. Claro que isso não pode deixar de ser percebido e não deixa de ter relevância, mas a ideia principal é nos fazer pensar sobre a nossa condição de impermanência e sobre o quanto somos frágeis.”, acredita o autor da série.
Por isso, “Corte Seco” não é um estudo ou uma critica do jornalismo policial praticado na redação dos jornais impressos das grandes cidades, mas um espaço para elocubrações sobre temas como transitoriedade, memória e a impemanência. Os segundos contados em silêncio por Alberto Bitar deixam a série falar por si mesmas sobre questionamentos que sempre inquietaram seu autor, que aqui aproveita até o vermelho incandescente projetado pelo giroflex da viatura do carro de polícia como pigmento mordaz que remete a morte, ao crime.
A 30ª Bienal de São Paulo foi a primeira experiência do “Corte Seco” numa exposição, para onde a série foi pensada para ser mostrada de forma inédita na sala dedicada ao forografo paraense. Depois as imagens percorreram o interior e se instalaram na mostra itinerante da Bienal, em Bauru. Hoje, as cinco imagens montadas em metacrilato, um material translucido afixado na imagem como um vidro em estado liquido que endurece sobre a própria fotografia, fazem parte do acervo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
(fonte: www.secult.pa.gov.br)
“Corte Seco”
14 de agosto até 24 de setembro
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas | Sala Gratuliano Bibas
Praça Frei Caetano Brandão, s/n
Cidade Velha – Belém – Pará
Horários
Terça a Sexta: 10h às 18h
Sábados, Domingos e feriados: 10h às 14h