“Coleção Itaú de Fotografia Brasileira” abre no dia 6 de abril, no Instituto Tomie Ohtake.
A mostra Coleção Itaú de Fotografia Brasileira apresenta, de 6 de abril e 19 de maio, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, um panorama da fotografia brasileira dos últimos 60 anos, com foco no seu lado mais experimental. Paisagem urbana, ditadura, realismo e surrealismo − assim como a expansão da linguagem, por exemplo em direção ao vídeo, à pintura, à escultura e à gravura − são recortes em destaque na exposição, que tenta sempre criar um diálogo entre as obras. Com um total de 115 obras, a exposição tem curadoria do jornalista, fotógrafo e mestre em comunicação e artes Eder Chiodetto.
Com os artistas:
André Carneiro, Breno Rotatori, Bruno Veiga Ribeiro, Caio Reisewitz, Cao Guimarães, Carlos Zilio, Cássio Vasconcellos, Claudia Andujar, Claudio Edinger, Cris Bierrenbach, Dora Longo Bahia, Eduardo Enfeldt, Eduardo Salvator, Eustáquio Neves, Feco Hamburger, Francisco Quintas Jr., Georges Radó, Geraldo de Barros, German Lorca, Gertrudes Altschul, Guilherme Maranhão, Gunter Schroeder, João Castilho, João Luiz Musa, José Oiticica Filho, José Yalenti, Lucas Simões, Lucia Koch, Lucilio Correa Leite Júnior, Luiz Braga, Marcel Giró, Marcelo Moschetta, Marcelo Silveira, Marcia Xavier, Marcos Chaves, Marepe, Mario Cravo Neto, Miguel Rio Branco, Odires Mlászho, Paulo Pires, Rafael Assef, Rodrigo Braga, Rodrigo Torres, Rosângela Rennó, Rubens Teixeira Scavone, Thomaz Farkas, Vicente de Mello e Vik Muniz.
Entre os participantes estão vários artistas PIPA. Visite suas páginas para saber mais sobre suas obras e carreiras:
Dora Longo Bahia
Lucia Koch
Marcelo Moscheta
Odires Mlászho
Rodrigo Braga
O Elogio da Vertigem
Essa mostra apresenta um recorte da Coleção Itaú de Fotografia Brasileira enfocando os últimos 60 anos da produção fotográfica de caráter mais experimental. O recorte do acervo visa mostrar a capacidade nacional de absorver e transformar influências estrangeiras ao mesmo tempo que tangencia a vertiginosa história sociopolítica do país e pontua a forte expressividade da fotografia brasileira.
A fotografia não foi apresentada como uma linguagem artística na Semana de Arte Moderna de 1922. Na Europa, no entanto, artistas impulsionados pelo dadaísmo e pelo surrealismo já haviam levado a fotografia a experimentar voos libertários. No Brasil, demoraria cerca de 25 anos para esses impulsos ecoarem. Colaboraram decisivamente para a mudança de patamar a chegada de fotógrafos europeus que, escapando das agruras da Segunda Guerra Mundial, começaram a trabalhar no Brasil disseminando os preceitos modernistas.
No campo mais experimental, foi fundamental a produção singular de Geraldo de Barros (1923-1998). Suas experiências incluíam fotomontagens, colagens e intervenções diretas no negativo que resultavam em abstrações e num pulsante elogio das formas, como se pode observar nas fotografias que constituem o núcleo “modernista” dentro da Coleção Itaú. A partir do final dos anos 1940, vários fotoclubistas − como José Yalenti, German Lorca, José Oiticica Filho e Thomaz Farkas − enveredaram por esse caminho criando um primeiro período mais consolidado do que podemos chamar de fotografia artística ou experimental.
Para a mostra no Instituto Tomie Ohtake, a curadoria optou por privilegiar trabalhos da produção fotoclubista que enfocam a paisagem urbana − tendo a arquitetura modernista da Escola Paulista como ícone − e o homem, como forma de percebermos mais claramente as conexões e os desdobramentos estéticos e conceituais que ligam a produção dos fotógrafos modernos aos autores contemporâneos. Sugerir pontos de contato entre os tempos pré e pós-ditadura é um dos intentos da exposição.
Entre 1964 e 1985, sob a ditadura militar, a fotografia voltou-se quase exclusivamente para sua funcionalidade documental, raramente conseguindo direcionar um olhar mais crítico ao regime, em razão da censura imposta aos meios de comunicação.
Foram raros os artistas que utilizaram a fotografia durante essa época para experimentar novos limites da linguagem e, sobretudo, para realizar obras que, metaforicamente, criticassem a ditadura. Duas dessas exceções foram os trabalhos de Boris Kossoy e Carlos Zilio, expostos agora em uma espécie de corredor, para marcar simbolicamente o período.
O fim da ditadura militar e o processo de democratização criaram uma renovada atmosfera que propiciou a retomada mais livre e menos dogmática da produção artística na fotografia. Serviram como guias dessa nova fase três autores seminais: Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudia Andujar. Realismo e ficção se mesclaram de tal modo em suas obras que uma espécie de vertigem passou a ser a melhor forma de encontrar uma raiz definidora da estética e da visão de mundo propiciada por seus trabalhos.
A nova geração seguiu esses passos que se refletem, como podemos observar, na produção dos jovens artistas aqui presentes, num território expandido em que a fotografia muitas vezes surge na imbricação com outras linguagens como a escultura, o vídeo, a pintura e a gravura.
Com esse histórico de sobressaltos sociopolíticos, econômicos, tecnológicos, estéticos e conceituais, a fotografia brasileira foi ganhando musculatura e absorveu as influências estrangeiras sem nunca deixar de acrescentar a elas o caráter nacional, mantendo assim a atitude antropofágica propalada por Oswald de Andrade, que, no Manifesto Pau-Brasil, pedia “estrelas familiarizadas com negativos fotográficos”.
Nessa edição da mostra, que já passou por Paris e Rio e Janeiro, optou-se por desacomodar as obras da sua cronologia para estabelecer, assim, um espelhamento lúdico no qual se evidenciam relações formais – mas, sobretudo, uma atitude libertária diante da representação fotográfica entre os dois períodos abordados. Uma maneira de salientar que a evolução de uma linguagem não se dá, necessariamente, de forma linear, mas em vertiginosas espirais desenhadas pelo tempo e pela cultura.
Eder Chiodetto, curador
Coleção Itaú de Fotografia Brasileira
domingo 7 de abril a domingo 19 de maio
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés, 88) – Pinheiros SP
Horários de visitação:
Terça a domingo, das 11h às 20h.
Entrada franca.